
Por Andrew McGuinness, sócio da agência londrina Beattie McGuinness Bungay
Já faz décadas agora que a morte do homem de atendimento (uso o gênero masculino de forma neutra) foi anunciada.
Lá em 1996, um bando de garotos que fundaram a Mother declararam que sua agência seria um território livre de atendimentos. Desde então, várias start ups pelo mundo, incentivados pela dupla sedução da um diferencial para suas emplumadas agências e o desejo de minimizar custos, anunciaram que suas agências não precisavam dos homens de preto (suits*).
O ceticismo sobre o futuro do papel do atendimento não se limitou as start ups. A Campaign e outros veículos do trade frequentemente questionam se esse papel é uma necessidade ou um legado dispendioso.
A contribuição dos criativos sempre foi mais fácil de isolar. Mas foi o Planejamento de que ao longo da última década trabalhou mais para reivindicar sua importância. A criação de prestigiadas premiações, “clubes” como a APG e, mais recentemente, através de excelentes blogs (se ainda não o fez, dê uma olhada em www.zeusjones.blogspot.com e www.pinkair.com para citar apenas dois), os planejadores têm posicionado com sucesso a sua disciplina como central na criação de idéias e no futuro da indústria da propaganda.
E no meio disso encontramos o atendimento que não tem clubes, nenhuma premiação e, até onde eu sei, nenhum fórum online que exalte a sua importância. [comentário do blog: o cara não conhece o Fazendo Atendimento Publicitário...]
Então, é chegada a hora do atendimento mudar de profissão? É fim de jogo para os difamados ‘suits’? Está na hora de eles arrumarem as malas que têm carregado até então?
Acho que não.
O papel do atendimento nunca foi tão vital como hoje, por três razões:
Primeiramente porque as mudanças que estão ocorrendo em nossa indústria significam que a máxima historicamente superusada ‘a criatividade vem de qualquer lugar’ é agora verdade. De uma posição ímpar capaz de perceber todas as facetas do relacionamento agência/cliente, é o atendimento que tem a perspectiva de vislumbrar oportunidades de financiamento de um projeto para o anunciante, de redesenhar o interior de um aeroplano, de integrar a marca do cliente a um espetáculo do West End... A forma mutante de nosso negócio significa que, de maneira crescente, os atendimentos são responsáveis por desenvolver e então dirigir suas próprias idéias, e não simplesmente alimentar e gerenciar as idéias dos outros.
Em segundo lugar, o negócio dos clientes está cada vez mais complexo, alimentado pela incansável dinâmica de mudança no business em geral e pela maravilhosa e ao mesmo tempo intimidadora série de opções e oportunidades que se abrem para o diretor de marketing. Pois estar apto a entender e representar o negócio do cliente dentro da agência é por si só um trabalho em tempo integral. E olhe que esse trabalho requer foco da pessoa cuja principal responsabilidade não é antecipar a próxima tendência do consumidor ou criar a peça que vai deixar a mensagem com maior visibilidade. Entender, sintetizar e inspirar as pessoas a respeito do negócio do cliente tem sido sempre a razão de ser do atendimento e isso é necessário agora mais do que nunca.
E, last but not least, o modelo de negócio das agências de propaganda está mudando. Ficaram no passado os dias em que a gente negociava uma vez ao ano sobre a base da taxa de comissionamento ou, mais recentemente, sobre uma planilha criada a partir de custos mais cálculo de margens. As agências de sucesso de hoje (e clientes) exigem que uma parte fundamental do papel do atendimento seja identificar novas e inovadoras formas de receita para o negócio, aprofundando assim o relacionamento com o cliente. Por exemplo, nós na BMB acabamos de negociar uma parceria com o The British Comedy Awards que vai nos dar uma parte de seus lucros de forma contínua. O atendimento de sucesso de hoje deve ser criativo ao identificar oportunidades e também deve ter a habilidade e a perspicácia financeira para estruturar um acordo de forma a beneficiar tanto a agência como seu cliente. Um criativo homem de negócios.
Há alguns atendimentos simplesmente incapazes de fazer essa transição. Também há agências lentas em reconhecer e incentivar esse novo papel. Mas para o resto de nós é hora de ir à luta, hora do atendimento reafirmar a importância de seu papel no futuro da indústria, hora de finalmente dar uma resposta aos que nos condenaram à morte.
Então, levante da sua mesa, dê um passo à frente e declare orgulhosamente: “Sou atendimento e sou o futuro dessa bela indústria!”
Ou alguma coisa nessa linha.
(*) Suit significa "terno", e é uma gíria na língua inglesa para atendimento publicitário.
2 comentários:
Excelente Kátia!
Mt inspirador, adorei!
será que isso condiz com a realidade?
será que o atendimento realmente ainda é indispensável para representar o cliente dentro da agencia? E ele é quem definirá o futuro da propaganda?
Postar um comentário