Gosto muito deste texto de José Predebon. Não é um texto novo, mas é muito atual. Acho que explora uma faceta interessante do trabalho em propaganda: ideias precisam ser implementadas. Portanto, a criatividade sozinha não necessariamente nos leva ao resultado.
PESSOAS NÃO
CRIATIVAS TÊM LUGAR EM PROPAGANDA?
Da mesma
forma que se acredita que gagos não podem ser cantores, nem tímidos podem ser
artistas, nem pessoas baixinhas podem jogar basquete, afirma-se tranquilamente
que pessoas pouco criativas não podem trabalhar em propaganda.
Mas esse é
um engano total, afirmo com a convicção de quem não só pesquisa o exercício da
capacidade criativa, mas também foi publicitário a vida toda e, lecionando
criatividade de 1986 até hoje, escreveu três livros sobre o tema. Então,
tranquilamente, eu me atrevo a nadar um pouco contra a corrente, na direção que
parece inadmissível, afirmando: sim, pessoas não criativas têm lugar na
propaganda. E agora vou tentar mostrar porque digo isso.
Comecemos
refletindo que a relação imediata que se faz entre propaganda e criatividade
nasceu na medida em que os trabalhos criativos se tornaram a vitrina daquela
atividade. O advento dos prêmios corroborou esse fato, acrescentando glamour à
venda massificada pela comunicação. E a era da TV multiplicou tudo.
Continuemos,
agora registrando que sim, criatividade é “importantérrima” na propaganda, não
afirmo o contrário. Mas sua importância no setor vem principalmente do fato de
que a criatividade é uma competência humana que melhora desempenhos em toda e
qualquer atividade. Portanto, também na propaganda.
Especificamente,
a atividade de “vender ideias” massificadamente, base da propaganda, repousa na
eficiência da comunicação, que, por sua vez, tem na originalidade uma de suas
grandes armas. É exatamente aqui que se chega à raiz do consenso da proximidade
entre criatividade e propaganda. Pois comunicação sem originalidade
(criatividade), na grande maioria dos casos funciona pessimamente.
Pesquisando
esse óbvio cruzamento entre a criatividade e a propaganda, fui levado a me
aproximar da “Human Dynamics”, uma nova disciplina da psicologia. Nela, vê-se a
base científica de um princípio que a gente aceita, até pelo bom senso, e que
diz: nem todos são criativos, e nem devem ser.
Afirmam os
psicólogos dessa nova face da psicologia que nas duas pontas de um grande
grupo, que pode sem maior dificuldade manejar a criatividade e sua filha a
inovação, há dois grupos distintos, antagônicos e absolutamente necessários
para o equilíbrio da sociedade. Um dos grupos é o dos inovadores, geralmente
criativos, que fica alimentando as mudanças. O outro, do lado oposto, é o grupo
dos muito organizados, para quem a norma é o que há de mais desejável.
Essa
composição diversificada do contexto das pessoas tem sempre um resultado
interessante, particularmente no mundo atual. Economistas de hoje, ao estudar a
inovação em si, o grande insumo do desenvolvimento na atualidade, estabelecem
que ela acontece quando uma ideia nova se beneficia de um processo organizado para
a sua implementação. Chegam a dizer que, dada a complexidade dos sistemas, os
processos ficaram mais importantes que os fatos com que lidam. Eis a conclusão
a que se chega, aceitando esse raciocínio e focalizando a criatividade: ela
tornou-se refém da organização. Traduzindo ainda mais para o cotidiano: ideias
brilhantes precisam de implementação, cada vez mais dependente de organização.
Daí uma conclusão imediata: pessoas não criativas, mas organizadoras, têm lugar
garantido nos processos que a propaganda envolvem.
Acrescento
mais, a essa tese. Desde que comecei a lecionar venho explorando com alunos uma
das definições de criatividade, que eu resumo como “o original relevante”.
Discutindo esse princípio surgiu uma das minhas metáforas favoritas sobre
criatividade, a do “balão tripulado”. É a seguinte: esse artefato voador
viabiliza-se graças ao equilíbrio entre o seu gás, mais leve que o ar, e o seu
lastro. Se houver lastro demais o balão não sai do chão. Se houver gás demais,
o vôo é incontrolado e inútil. Assim acontece com a criatividade, que se torna
válida quando há uma boa relação entre a ideia nova e a sua tangência com a
realidade. Tangência que também vem da organização necessária.
(o texto foi escrito por Pedrebon com base nos conceitos do capítulo sobre criatividade do livro "Propaganda,
Profissionais Ensinam Como Se Faz", Editora Atlas)
2 comentários:
Olá, boa tarde.. sou estudante de publicidade e propaganda, estou cursando o 3º semestre e gostei muito do blog. Tenho muito interesse pelo atendimento. Gostaria de saber como podemos ter uma palestra sua na nossa faculdade. Sou de Salvador - BA.
meu e-mail: lua_fiori@hotmail.com
Luana, que bacana que você gostou do blog. Quanto ao interesse pela palestra, essa é uma atividade que faço com muito prazer. Vamos viabilizar?
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