Começando do princípio: imaginemos a “orquestra” como
metáfora da organização, a agência como um todo, ou da empresa prestadora de
serviços de comunicação como um todo. O maestro seria quem, então nessa
organização? Bom, maestro, pelo que sabemos, estabelece o que deve ser feito e
como deve ser feito. A sinfonia carrega a interpretação que o maestro fez daquela
partitura. E cabe aos músicos seguir essas diretrizes de forma irrefutável. Em
resumo, ao maestro cabe estabelecer as diretrizes e aos músicos, seguir a sua (dele)
interpretação da sinfonia. Aí eu pergunto: teria a maioria dos atendimentos realmente
o poder de determinar como uma empresa deve “tocar uma sinfonia”? Não, a menos que ele/ela
seja CEO, presidente, dono/a.
Entendo que a função das definições e analogias visam
a dar certo empoderamento ao atendimento para gerar estímulo e motivação para
os profissionais. Porém, o efeito tende a ser contrário quando há um
superdimensionamento desse “poder”. Ao se exigir caber num determinado papel e ser
cobrado a caber nele, o Atendimento se vê muitas vezes angustiado porque algo
sempre parece deslocado, difícil ou impossível de ser alcançado.
Talvez por isso meu incômodo com essa definição. O papel
do Atendimento traria ali implícito um quê de arrogância e superioridade, o que
contraditoriamente descaracteriza a essência do nosso trabalho – a colaboração,
a parceria, a atuação pelo bem maior.
Então eu sugiro uma nova analogia, reposicionando o
Atendimento na “orquestra”. Não como maestro, mas como um dos músicos. Sem
supremacia dentre as outras disciplinas, mas, sem dúvida, fundamental no todo. Nessa
nova analogia, não precisamos nem fazer parte de uma orquestra (= grande
agência). Podemos atuar até em uma banda de garagem ou num quarteto de jazz.
E quem seria esse músico? Proponho o percussionista.
Ele não fica no backstage, fica estrategicamente atrás, de onde pode ter a
visão do todo. Ouve a todos com muita atenção para proporcionar um certo nível
de estrutura à conversação. Uma série de coisas depende do seu julgamento na
hora exata em que estarão acontecendo. Exerce influência no volume, isto é, o quão
mais “alto” ou mais “baixo” as coisas devem acontecer.
Ser percussionista tem muito a ver com ter uma apurada
percepção do todo, que por sua vez tem a ver com manter-se focado enquanto os outros
músicos tocam mais alto ou mais baixo. O que tem a ver com um senso de
responsabilidade sobre a performance geral para imprimir o ritmo. E com estar
acompanhando não no sentido de ir atrás, mas de manter o desenho do som.
O atendimento-percussionista entende que o ritmo muda
de acordo com a música que se toca. E sabe que até no improviso há que se
manter uma linha que costura tudo e imprime, mais uma vez, o tempo musical.
Numa época em que falamos em sustentabilidade, até
mesmo nas relações, convém descer do pódio e olhar os outros como nossos pares.
Sentindo-se parte do todo teremos a medida certa do pertencimento e não do
poder exercido.
Por último, eu diria que não há nada errado ou certo
em interpretar a mesma música de forma diferente. Entretanto, quando a gente se
depara com um bom percussionista, a gente sente que a música está estruturada.
Em 2014, troquemos a batuta pelas baquetas!
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