Se há um
departamento nas agências que congrega um número expressivo de mulheres, esse é
o Atendimento. Nem sempre foi assim. Quem assistiu à série Mad Men, sobre o
cotidiano de uma agência na Nova Iorque dos anos 60, pode observar que não
havia mulheres no Atendimento, elas só estavam por ali como secretárias,
telefonistas, copeiras. Hoje estamos em maioria, pode verificar em qualquer
agência.
Já ouvi
muitas coisas por aí que “explicam” o fato de sermos maioria no Atendimento. A
versão mais corrente – e talvez a mais internalizada - é aquela que diz que
mulher é detalhista, colaborativa, paciente, flexível, organizada. Essas
“qualidades intrínsecas” fariam a mulher mais capacitada, a priori, para a
função. Quando ouço isso sinto um certo incômodo, confesso. Me soa
estereotipado demais, simples demais, reduzido demais. Principalmente porque
observo que para uma grande proporção de mulheres executando as tarefas do dia-a-dia
do Atendimento existe uma parcela reduzida de homens, esses sim, em postos de
alto comando.
São os
Diretores de Atendimento, os VPs de Atendimento. E os donos das agências.
Uma vez, há
bastante tempo (lá pelos idos de 2001), a revista Exame trouxe como matéria de
capa uma provocação: “Até Onde as Mulheres Conseguem Chegar”. Dentre dados,
questões, discussões etc., o que me marcou foi o que dizia o sociólogo alemão
Reinhard Kreissl em seu livro (que infelizmente não tem tradução para o inglês,
nem para o português). Ele questionava os tão alardeados “avanços femininos”,
pois observava que as áreas onde as mulheres vinham conquistando espaço são
justamente aquelas onde o poder se esvaiu.
Na Europa,
mulheres chegaram ao Parlamento coincidentemente quando o poder da classe
política diminuiu como um todo. Também chegaram à universidade quando ela já
não oferecia as mesmas vantagens de antes, como status e garantia de emprego.
Se formos
transportar isso para o universo das agências, vemos que também houve perda de
prestígio do Atendimento, a partir da década de 70 e com seu auge na década de
80, refletindo- se ainda na década de 90. Justamente quando mais e mais mulheres
assumiram postos nesse departamento.
Isso bate
com o que tenho observado nos departamentos de Atendimento das agências: as
mulheres vêm ocupando níveis médios de gerência corporativa e são justamente
esses postos que mais perdem prestígio e importância nessa nossa época de
downsizings e reengenharias e “transformação de modelos”. Coincidência ou não,
é lá que estamos a maioria de nós: assistentes, executivas, coordenadoras, supervisoras,
gestoras. OK, conseguimos chegar até a um numerozinho maior como Diretoras de
Contas. Mas Diretoras de Atendimento, VPs de Atendimento...bom, aí é outra
história.
Hoje as questões
sobre equidade de gênero estão mais em evidência e quem não se movimenta se
arrisca a não ter uma imagem tão boa. Também é fato que agências têm procurado
mostrar-se preocupadas com a questão.
Mas só preocupação não resolve. É preciso
que sejam implantadas políticas de redução de desigualdade. De verdade. Não só algo
pontual para a assessoria de imprensa plantar uma nota no Meio & Mensagem da
pseudo agência antenada. É preciso que se internalize a tolerância zero com o
assédio, que pessoas sejam efetivamente punidas. É preciso que se pague o mesmo
salário para o mesmo cargo. Etc. etc. etc.
Por mais
que a gente lute – e a gente tem que lutar mesmo – a coisa só anda quando o
exemplo vem de cima.
Se gestores
de agência não abraçam e encabeçam a mudança, o resto pouco muda. Se os
clientes não se importam se seus fornecedores e parceiros têm sistemas e
políticas que levem à equidade, também a coisa não anda.
E aí os
melhores talentos femininos tendem a desaparecer das agências. Elas abrem suas
próprias consultorias, buscam modelos
mais justos para trabalhar e criar filhos, pensam em negócios mais afinados com
o mundo em que vivemos.
E vida que
segue.
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