30 de janeiro de 2020

Visitei Uma Grande Agência nos EUA e Olha o Que eu Vi


Não sei você, mas eu adoro conhecer escritórios de agências. Sempre achei que a “casa” da gente revela muito do que somos.
Procuro entrar nesses espaços com meus sentidos em alerta máximo, tentando perceber que mensagens a arquitetura, as instalações e, principalmente, a vibe do lugar me transmitem. E foi com esse espírito que, numa quinta-feira de inverno na capital dos EUA, fui visitar a GMMB.
Antes de começar a contar a respeito, deixa eu avisar: minha visita não se limitou a ida ao escritório. Observei a empresa por dentro, mas também busquei entender a agência “para fora e para os lados”. Afinal, empresas fazem parte de um ecossistema. Pessoas colaboradoras, pessoas clientes, empresas parceiras, a sociedade, o planeta.
Nesse artigo eu vou contar para você minhas impressões levando em conta essa perspectiva.

Primeiramente, vamos ligar o nome à pessoa

A GMMB é a maior agência de consultoria e comunicação política dos EUA. Foi a responsável tanto pela estratégia como pelas ações de marketing que ajudaram a eleger e a re-eleger Barak Obama. Também foi contratada para a campanha de Hillary Clinton, em 2016, e vem trabalhando na campanha de Kamala Harris desde o ano passado.
Tem escritórios em três cidades americanas, mas também atua off-site, inclusive em projetos internacionais (em mais de 50 países). Para citar um exemplo mais próximo de nós brasileiros: Chile,  1987-88, durante a ditadura militar. A agência prestou consultoria no desenvolvimento de estratégias e deu treinamento aos ativistas locais em nome do National Democratic Institute. (Para saber mais detalhes sobre a campanha que ajudou a derrubar o ditador Pinochet num histórico plebiscito, assista ao imperdível  filme chileno “No”, concorrente ao Oscar em 2012.)

Equação da comunicação: Causa + GMMB = efeito

Embora tenha começado suas atividades em 1983 como uma empresa de consultoria política, a agência ampliou sua atuação e vem, segundo ela própria define, “ajudando empresas e entidades que desejam fazer do mundo um lugar melhor para todos”. Sua carteira de clientes hoje engloba fundações, ONGs, empresas socialmente responsáveis, entidades governamentais, políticos democratas.
Ativismo no Instagram
A agência tem um posicionamento bem construído, que por sua vez demonstra um propósito claro. Aproveita bem as oportunidades de contato com os mais diversos stakeholders para expressar e reforçar sua missão – Creating real and lasting change in the world (Criando mudanças reais e duradouras no mundo) – como também sua visão: to cause the effect (causar o efeito).
Frases simples, poderosas, com grande apelo emocional.
Penso que isso deve ser o começo de tudo, o primeiro dever de casa de qualquer agência: entender-se, definir-se, comunicar isso. Uma agência que tem identidade e diz a que veio tem mais chances de  atrair clientes, colaboradores e parceiros que se alinham com seu propósito. Todo mundo joga o mesmo jogo. Concorda?

Sobre o quartel-general em DC

A agência ocupa dois andares no complexo Washington Harbour, que fica às margens do Rio Potomac, convivendo com um entorno de restaurantes bacanas, apartamentos de luxo, hotel, e até uma embaixada.
Me arrisco a dizer que houve um brief bem passado ao arquiteto de interiores/designer. O ambiente é parte indissociável do posicionamento e vou procurar explicar descrevendo o que eu senti ao entrar lá.
Ainda do lado de fora, a gente pode ler em destaque, através da porta de vidro, a missão da agência (foto da capa do artigo).
A escada, elemento impactante no lobby. (foto: site GMMB)
Enquanto me dirigia à recepção, a primeira coisa que me impactou foi uma escada larga, no lado esquerdo. Minha visão foi direto para o topo, onde me deparei com uma baita luz natural (era dia) e as luzes de  muitas lâmpadas que pendiam do teto.  O que eu senti? Vontade de subir e entrar naquele mundo “iluminado”. Parabéns aos envolvidos 😉
O escritório é circular. E justamente por ser circular, andar por ali me deu a sensação de continuidade e fluição.
Paredes brancas com elementos em madeira aqui e ali, pontos de cor em alguns elementos arquitetônicos e decorativos. Chão de cimento queimado na área de circulação, mas com carpete na área de trabalho (ótimo para dar conforto auditivo). Algumas estações de trabalho de conceito aberto, com mesas brancas e – argh! – baias.
Um parêntesis aqui: reparei que várias mesas estavam sem uso. Segundo me explicaram, são destinadas a profissionais com contratos temporários. Precisando colocar mais gente no jogo, tudo é modelável e adaptável às necessidades e tem lugar pra todo mundo, sem amontoar. Gostei.
Espaços abertos e fechados.(foto: Washington Business Journal)
Felizmente, sentar numa mesa e se iludir com a pseudo-privacidade das baias não era a única possibilidade para o pessoal. Talvez por isso vi que várias pessoas se espalhavam pelo escritório: nas salas de reunião, ou mesmo sozinhas ou acompanhadas em outros espaços. Esses outros espaços quebram a monotonia visual. Após cada curva a gente vê lugares diferenciados por cor e decoração, espaços de estar aconchegantes que proporcionam uma relação diferente e mais “humanizada”: sofás, poltronas, mesas de centro, TV, estantes, plantas. Sem falar na vista bacana para o rio e o aproveitamento da luz natural (muita gente estava trabalhando com a luz elétrica baixa ou desligada). Há algumas pequenas salas de reunião com paredes de vidro, diferenciadas por cor, e outras salas maiores de reunião.
Foto: Wash. Bus. Journal
Como um grande espaço de convivência, há uma copa que mais parece um restaurante ou cafeteria.  Uma tigela grande com maçãs disponíveis para quem quisesse, a hora que quisesse. Café a vontade…ah, café… amo!
Claro que tem a velha estante/parede com os troféus. Claro que tem as “modernices” também, né? Numa das curvas, como um espaço de trabalho informal, senta-se num balanço ou pufes que ficam em frente a uma parede onde se pode escrever e/ou colar os indefectíveis post-its. Bacaninha. Vi também algumas pessoas montando quebra-cabeças – uma forma legal de dar um break e desestressar.

Departamentos, SQN

Convivência. (foto: Wash. B. Journal)
A única área setorizada parecida com um departamento fica no primeiro andar. É a Produção (on e off). Percebe-se que muita coisa deve ser produzida em casa, pelos equipamentos aqui e ali.
No mais, os profissionais são agrupados por segmentos de negócios. Há o grupo dos que trabalham com Educação, outro especializado em Saúde, outro dedicado a Causas/Questões Sociais e o que atua na consultoria Política.

Você trabalharia na GMMB?

Bom, depois de tudo isso a gente se pergunta: como será trabalhar lá?
Para ajudar a responder, vamos avaliar como utilizam a comunicação para atrair talentos.
Supervisor de atendimento reforça a missão da agência. (fonte: site GMMB)
A agência tem uma página do LinkedIn onde as vagas são postadas. Elas também estão disponíveis no site, na área de carreiras, e ali, além do descritivo das funções, há testemunhais de colaboradores e trainees que ajudam a apresentar uma imagem positiva da agência e a reforçar, mais uma vez, seu posicionamento (legenda da foto: supervisor de atendimento fala da missão da agência). No site também dá para ver a lista de benefícios oferecidos aos colaboradores.
Quem sou eu, quem é você. (fonte: GMMB/LinkedIn)
Os anúncios são bem detalhados. A agência se apresenta primeiro e depois diz o que espera do candidato. Explica a abrangência e as responsabilidades dos cargos, incluindo o grau de hierarquia (a quem se reportar e a quem mentorar).
Para ter uma noção do que os profissionais espontaneamente comentam, dei uma olhada no Glassdoor. Quando acessei, o comentário mais recente tinha aproximadamente um ano. A maioria deles não eram lá muito favoráveis, o que de certa forma não me surpreendeu. Sem querer desqualificar as queixas e o direito de expressá-las, me arrisco a dizer que a maioria dos que se dispõem a fazer comentários sobre empresas em redes sociais e sites estão insatisfeitos com alguma coisa. Também já me falaram que os comentários elogiosos são “chapa-branca”, influenciados ou até mesmo escritos secretamente pelos RHs numa tentativa de dar um certo equilíbrio e não manchar por demais a imagem da empresa.
A reclamações, na maioria, descreviam aquelas velhas mazelas nossas de cada dia: longas jornadas e favoritismos. Mas em várias críticas a priori negativas observei algum tipo de ponderação. Aquele “apesar de”. Tipo: vale a pena porque é bom trabalhar com jobs dessa natureza (sensação de contribuir para melhorar o mundo), e por aí vai. Vi também ponderações mais racionais: ter no CV a grife de uma grande agência faz sentido. Apesar de.
Importante pontuar que os comentários mais contundentes receberam retorno do RH da agência que demonstrava alguma empatia, e chamava para uma conversa.
A turma se queixa, e a empresa está atenta monitorando a sua imagem.
A pergunta que não quer calar continua: será bom trabalhar lá? Depende. Cada um de nós está em seu momento de carreira, tem aspirações, ambições particulares. Haverá os que vão se sentir muito atraídos. E aqueles que vão achar tudo um tremendo blá-blá-blá.
E você, depois de me acompanhar nessa visita-jornada, o que me diz?
 

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