O discurso é o da modernidade, do up-to-date. A gente ouve que assim vai ser bem melhor. Que vamos ganhar tempo. Que vamos economizar papel e tinta. Que vamos economizar no táxi. De repente você tem à sua disposição celular, e-mail, laptop. E aí, pra que ir ao cliente? Do escritório você envia o layout por e-mail mesmo. Alguns Atendimentos mais preocupados até escrevem no e-mail uma defesa, uma explicação, uma tentativa de abertura para ser lida antes de o cliente abrir o arquivo. Ingenuamente acham que (ou rezam para) alguém lerá seus comentários antes de abrir o arquivo. Outros, inexperientes, acreditam piamente que a peça fala por si só, dispensando a sua interferência. Send.
Ocorre que sem obrigação nenhuma de ouvir o que você tem a dizer, quem recebe seu e-mail vai digerir a mensagem do jeito que bem entender. Do outro lado do ciberspace, alguém abrirá o arquivo anexado primeiro (e quem não ficaria curioso?) e depois lerá o que você tem a dizer. Ou nem lerá. O arquivo de um anúncio de página dupla de jornal aparecerá em escala diminuta na tela causando desconforto visual. Tudo parecerá pequeno, não só o famigerado logo (afinal, esse estará sempre pequeno mesmo, na opinião da maioria dos clientes). O título vai dar para ler, mas o texto não será lido. E como o texto desenvolve o que o título - mais curto e impactante - não explicou, vai ser tudo reprovado porque “não deu pra entender”, “o anúncio não está fazendo sentido”. Você ainda tenta conversar, mas não acha o cliente. Tenta o celular e consegue contatá-lo. E começa mais um desconforto. Quem agüenta ficar muito tempo ao telefone? Incomoda, irrita. É um meio que exige brevidade. Vai crescendo a chance do anúncio nem ser veiculado, do cliente cancelar o trabalho.
Há outras maldições na vida cercada de tecnologia. Hoje qualquer layout se parece com uma arte-final. Usam-se fotos prontas, lindas, retiradas de algum site bacana de fotógrafos famosos. E com modelos internacionais. É só referência, dizemos. E depois com uma verba microscópica não temos como fazer igual e nem parecido. O que sai no jornal não se parece com o que foi aprovado. Mais aborrecimentos. O cliente tira a conta.
Eu teria um rosário inteiro para desfiar, mas prefiro parar por aqui. A verdade é que nessa batida o Atendimento tende a perder o controle da situação. Portanto, não se deixe seduzir por esse papo de economia, pois tenho a nítida sensação de que o volume de re-trabalho aumentou consideravelmente nas agências. Adoraria poder provar isso estatisticamente. Já reparou que só se fala em evitar o re-trabalho, mas cada vez temos mais obstáculos à frente, evitando o puro e simples contato humano? Send? Tem certeza?
Pra mim, nada substitui o contato presencial, o olho no olho, a oportunidade de você imprimir seu entusiasmo e credibilidade ao apresentar um trabalho. A chance de defender o que acredita, de impor respeito, de representar sua agência de forma digna. De não permitir que o que a agência levou uma semana para resolver seja demolido em minutos por esses ruídos.
Em suma: desligue seu laptop, imprima o anúncio, pegue um táxi e visite seu cliente. E não se esqueça de desligar o celular quando entrar na reunião.
Um comentário:
É isso aí Katita. Concordo em gênero, número e grau.
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